terça-feira, 11 de novembro de 2014

A REVOLUÇÃO DE 32 
COPA DO MUNDO DE FUTEBOL


Arthur Friedenreich “El Tigre” 

A copa do Mundo no Brasil acabou, mais não poderíamos deixar de retratar neste blog a participação do esportista Arthur Friedenreich que em 1932, trajando a farda da tropa, com botas de cano alto, viaja por cidades do interior para fazer propaganda do alistamento de esportistas. 


Ex-futebolista brasileiro, Arthur Friedenreich (1892-1969) foi o primeiro grande craque do futebol do Brasil. Foi nove vezes artilheiro do campeonato paulista, marca que só foi quebrada quase três décadas depois por Pelé. Arthur Friedenreich nasceu em São Paulo, no dia 18 de julho de 1892. Filho de um imigrante alemão com uma lavadeira negra, filha de ex-escravos. Era um mulato alto, esguio, cabelos crespos e olhos verdes. Foi atacante de dribles curtos e rápidos, ágeis deslocações, criativo, habilidoso e de um forte chute preciso com ambos os pés, além de fazer parte da história de nosso futebol é o grande detentor de recordes e marcas únicas. Foi campeão sul-americano, atual Copa América, em 1919 e 1922 pela seleção brasileira, sendo estes os dois primeiros títulos do Brasil. Foi dele o gol da vitória por 1x0 contra o Uruguai em 1919. Sua técnica aliada a sua raça rendeu-lhe o apelido de "El Tigre" entre nossos adversários argentinos e uruguaios. É dono da mais longa carreira dentro do futebol, pois por 26 anos atuou por diversas equipes até encerrar a carreira aos 43 anos em 1935. Arthur Friedenreich foi nove vezes artilheiro do campeonato paulista, marca que só foi quebrada quase três décadas depois por Pelé. Embora haja controvérsias é o maior artilheiro da história do esporte com a marca de 1329 gols oficializada pela FIFA e registrado no "Guinness, o livro dos recordes" com base em dados apresentados pelo jornalista Mário Viana.


        
As controvérsias ocorrem já no fato de que nem todos os gols podem ser comprovados por registros escritos. Mário Viana baseou-se em um caderno de anotações em que constavam todos os gols e jogos de "Fried" inclusive nos muitos amistosos e jogos de exibição que disputou para ganhar dinheiro em equipes como Grêmio, Santos, Atlético Mineiro e Flamengo. Contudo este caderno desapareceu. Outro motivo da controvérsia está em que os dados do tal caderno determinavam 1239 gols e assim houve uma inversão nos dois dígitos internos que elevou em 90 gols a marca. Muitos julgam que a controvérsia encerrou-se quando o jornalista e pesquisador Alexandre da Costa encontrou o registro de 592 jogos de Friedenreich onde ele marcou 556 gols o que seria outro recorde o de 0,99 gols por partida. Contudo outros estudiosos contestam esta marca pelo fato de que Alexandre ignorou as partidas em que Friedenreich atuou mas que não havia registro do resultado do jogo ou independente de haver ou não o resultado de quem marcou os gols da partida. Sérgio Junqueira de Mello pesquisador das primeiras equipes do futebol paulista encontra nove partidas do Paulistano, Ypiranga e até de um Combinado Brasileiro onde Friedenreich atuou e mesmo naquelas em que se encontra o resultado final e não se encontra quem marcou os gols. Há ainda os que contestam o número de partidas encontradas uma vez que até meados da década de 20 eram raros os registros de jogos de futebol nos jornais e como no início o futebol em muito se assemelhava aos atuais jogos varzeanos era muito comum um jogador ou mesmo uma equipe efetuar duas ou até três partidas no mesmo dia. Independente de tantas controvérsias nada desmerece este artista da bola, que pela seleção brasileira fez 22 partidas e marcou dez gols, venceu sete vezes o campeonato paulista, três vezes o campeonato brasileiro de seleções estaduais e os dois títulos pela seleção brasileira, além de ter fundado o São Paulo da Floresta que deu origem ao atual São Paulo Futebol Clube. Ao falecer em São Paulo, no dia 06 de setembro de 1969, não só entrou para a história do futebol brasileiro como também se tornou uma lenda.

Combatentes que defendem o País em campo no dia da Revolução Constitucionalista de 1932“

A ligação entre o primeiro grande ídolo do futebol brasileiro e o histórico momento no país. Poucos sabem que Arthur Friedenreich foi figura importante nesse cenário de guerra. Isso mesmo, Fried foi, literalmente, à luta.



Em “Friedenreich – A saga de um craque nos primeiros tempos do futebol brasileiro” (Casa Maior Editorial), o capítulo que destaca a participação de Fried na Revolução de 1932.


El Tigre a direita, o fantasma das trincheiras não abala um combatente. 

A marchinha “O Teu Cabelo Não Nega”, de Lamartine Babo, empolgava os foliões no Carnaval e sua letra exibia um trecho em que brincava com a política: “mulata, mulatinha, meu amor, fui nomeado o teu tenente interventor”. Os versos eram uma referência à prática recorrente do presidente Getúlio Vargas de nomear interventores para os Estados durante o período do governo provisório implantado pela Revolução de 30. Derrotado politicamente pela ascensão de Vargas, o Estado de São Paulo era veementemente o mais refratário às indicações dos interventores, defendia uma nova Constituição e o direito de eleger seus representantes. Manifestações, comícios e confrontos, como o de 23 de Maio, que provocou a morte de Martins, Miragaia, Dráusio, Camargo e Alvarenga, deixavam os paulistas cada vez mais em pé de guerra.


O futebol ainda resistia. No clássico tradicional que reunia os clubes campeões carioca e paulista, o São Paulo derrota o América por 3 a 1. Fried faz os três gols, cala seus críticos e mostra a sua disposição de atuar por mais um ano. A rivalidade entre São Paulo e Rio tornava a ser incrementada pela disputa da Taça Equitativa, em dois jogos de ida e volta. A grande novidade era a total reformulação do selecionado paulista, que afastava de vez a geração de veteranos simbolizada por Friedenreich. Era o fim de um ciclo de 20 anos de serviços prestados por ele ao futebol bandeirante, de 1912 a 1931. Com os novos valores, os paulistas são derrotados por 2 a 1 no campo da Floresta — pela primeira vez, a seleção carioca de sua liga principal vencia em São Paulo. No jogo de volta, no Rio, os paulistas chegam a abrir 3 a 0. O adversário reage e faz dois gols. Revoltada com a arbitragem, a torcida invade o campo e as hostilidades acabam por suspender o jogo.


O campeonato estadual segue até o começo de julho, quando é interrompido pelos primeiros movimentos da Revolução Constitucionalista, deflagrada no histórico Nove de Julho. A insurreição ganha adesões de vários segmentos da sociedade paulista, numa rara comunhão entre dominantes e dominados que partem para uma luta desigual. O levante envolve no total cerca de 150 mil homens; 35 mil são constitucionalistas, incluindo os homens da Força Pública e as legiões de voluntários civis, sem armas e munição suficientes para enfrentar o poderio do Exército federal e seus 110 mil combatentes. Em contrapartida, os paulistas se mobilizam intensamente na retaguarda. Fábricas produzem munição, mulheres fazem uniformes e a população é chamada a doar ouro para São Paulo.

A febre dos voluntários civis chega aos clubes, que organizam um batalhão de esportistas

Na condição de ídolo número um, Friedenreich doa seus troféus e medalhas para a campanha e faz diversas convocações aos seus pares por uma rede de rádio.

“Esportista há mais de 20 anos, como sabeis, sinto a energia física e moral que todos vós, também esportistas, certamente o sentis. Esportista há mais de 20 anos, com serviços prestados ao meu clube, ao meu Estado e — por que não dizê-lo — ao meu país, tanto nos nossos campos como naqueles do Uruguai, da Argentina, França, Portugal e Suíça, sinto-me com o direito de vos dirigir um veemente apelo para que imiteis meu gesto, inscrevendo-vos na Mobilização Esportiva, a fim de que todos juntos defendamos a causa sagrada do Brasil. Tudo por São Paulo, num Brasil unido”, discursa.


Trajando a farda da tropa, com botas de cano alto, ele ainda viaja por cidades do interior para fazer propaganda do alistamento de esportistas. 

Além de Fried, o batalhão reúne o goleiro Athiê Jorge Cury, que depois se tornaria presidente do Santos, e o atacante Luizinho, do São Paulo da Floresta, entre seus mais famosos futebolistas. Há ainda o atleta Aldo Travaglia, que chegou a ser convocado para os 110 m com barreiras para a Olimpíada de Paris (1924), e os irmãos Walther e João Rehder Neto, revelações do atletismo, que se preparavam para competir nas Olimpíada de Los Angeles, em agosto.

1º Batalhão Esportivo Provenientes de cerca de 60 clubes da capital e do interior, os voluntários esportistas totalizam 1.400 homens. Depois de duas semanas de treinamento, que incluía tarefas como aprender a montar um fuzil, e de manobras militares realizadas no campo do São Paulo da Floresta, o 1º Batalhão Esportivo embarca de trem no dia 2 de agosto com 800 voluntários. Após escala em Mogi Mirim, o batalhão segue até Eleutério, na divisa com Minas Gerais, região onde se concentravam os embates mais cerrados. O 2º Batalhão esportivo dirige-se à região da Mogiana, também na fronteira. Logo após o desembarque das tropas, em 4 de agosto, os esportistas sofrem seu primeiro batismo de fogo. Não há feridos, segundo os jornais, que destacam o fato de terem sido feitos alguns prisioneiros da ditadura Vargas. Os primeiros dias da campanha são destinados à escavação de trincheiras no alto das montanhas para guardar a fronteira.

Há poucos relatos detalhados sobre as ações desenvolvidas, mas o sargento Friedenreich é elogiado e promovido por atos de bravura em despacho do major Antônio Bayma.

“Tenho satisfação em comunicar-vos que foi promovido a 2º tenente o sargento Arthur Friedenreich pela sua atuação brilhante nos últimos combates em Eleutério, onde com muita dificuldade pôde distinguir-se entre seus companheiros dos batalhões Esportivo e Nove de Julho, pois todos se batem como verdadeiros guerreiros.” 

Entrincheirados, os esportistas suportaram um cerco que durou 26 dias. Em 22 de agosto, numa tentativa de assalto das tropas federais, os soldados paulistas são alvo de xingamentos em meio às manobras. Cerca de 500 integrantes dos batalhões Esportivo e Nove de Julho passam então a entoar o hino nacional, fazendo cessar os xingamentos, segundo relato de jornais. Era também uma forma simbólica de responder às acusações de que o movimento constitucionalista era separatista. O momento mais dramático durante a revolução que Friedenreich sempre lembraria foi quando um combatente, que estava ao seu lado, é atingido por um tiro na nuca e morre em seus braços. O fantasma da morte seria associado ao nome do craque na disseminação de um boato de que ele teria tombado morto em ação. A falsa notícia chocou multidões, comoveu os paulistanos, espalhou-se pelo país e ganhou manchetes em jornais de outros Estados.


Dominados pela boataria, dois sentinelas que guardavam a ponte do Matadouro, em Itapira, interceptaram um caminhão e exigiram a identificação de seus ocupantes. Um deles pôs a cabeça para fora da janela e logo foi identificado. O mais famoso dos combatentes não estava morto. “Friedenreich! Quanta emoção. Um bálsamo sobre os nervos em frangalhos”, relataria tempos depois um dos sentinelas. A suposta morte depois seria amplamente negada pela Rádio Record. Sem poderio militar à altura do inimigo, a revolução termina oficialmente em 2 de outubro, deixando um rastro de 800 combatentes mortos e um legado de lutas por liberdades civis e a defesa de um ideário liberal e constitucionalista, que contribuíram de alguma forma para a realização de eleições em 1933 e a promulgação da Constituinte de 1934. Getúlio Vargas se aproximou da elite cafeeira e nomeou como interventor o paulista Armando Sales de Oliveira, que acabou fundando a Universidade de São Paulo (USP), outro grande legado da revolução.

A interrupção imposta pelo movimento constitucionalista limitou a disputa do campeonato em um só turno, conquistado de maneira soberana pelo Palestra Itália, na mais perfeita campanha da história da competição: 11 vitórias em 11 jogos disputados. O São Paulo da Floresta terminou em segundo lugar, mas já sem a força de Friedenreich, que atua mais como um garçom, servindo passes aos jovens companheiros da linha ofensiva. O ataque tricolor marcou 33 gols na competição; 16 foram de Luizinho e 11 de Araken. El Tigre fez apenas um no campeonato. Na temporada, foram dez.


Agradecimento especial ao 
Cb PM Jean Marcelo Beneti

http://www.e-biografias.net/arthur_friedenreich/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Arthur_friedenreich.jpg

Um comentário:

  1. Belíssimo post! Friedenreich combateu aqui em Itapira liderando o Batalhão Esportivo!

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